Você foi ao 21º Simpósio da Associação
Nacional de História - ANPUH? Infelizmente, muitos historiadores, sobretudo aqueles que se dedicam à docência no ensino médio e fundamental, ainda desconhecem a existência da ANPUH - Associação Nacional de História. Isto porque, apesar dos discursos em prol da "democratização" da entidade, a ANPUH continua, tal como nasceu, umbilicalmente ligada ao espaço universitário. ver histórico Há quem julgue que isto seja natural, afirmando que a Associação Nacional de História só interessa a quem está engajado na pesquisa acadêmica. Ao contrário disso, a participação na ANPUH de historiadores que estão fora do "circuito universitário" é cada vez mais importante, já que hoje esta instituição se configura como a nossa única entidade de alcance nacional. É bem verdade que a sua capacidade de articular nossa categoria em busca de velhas reivindicações, como a regulamentação da profissão do historiador, tem se mostrado frágil, o que tem levado muitos a considerar que a ANPUH não passa de uma organizadora de eventos. No entanto, mesmo que esta fosse a única função da ANPUH a sua existência já seria plenamente justificável. Os simpósios realizados anualmente - nos anos pares são de âmbito regional e nos anos ímpares são encontros nacionais - apesar de toda a crítica que possa ser estabelecida são, principalmente por sua diversidade, oportunidades únicas. É pouco provável que outros encontros possam reunir, na mesma dimensão, desde nomes "badalados" como os de Ciro Flamarion Cardoso, Edgar De Deca e Luiz Felipe de Alencastro até autores que, apesar de produzirem obras importantes, só têm expressão regional. Estes pesquisadores experientes dividem espaços com trabalhos apresentados por mestrandos, doutorandos e, mais raramente, de graduandos em iniciação científica. Os encontros, sobretudo os nacionais, impressionam pela grandiosidade. Para se ter uma idéia, o caderno de resumos dos trabalhos apresentados no simpósio deste ano era um respeitável livro com cerca de quinhentas páginas. Entre cursos, conferências, mesas coordenadas e atividades culturais, o participante teve a sua disposição, de segunda a sexta, uma programação que começava às 8:00hs e terminava, no mínimo, às 20:00hs. Uma verdadeira maratona para um número que, apesar de impreciso, chega a alguns milhares de historiadores. Especula-se que este último encontro, organizado pela Universidade Federal Fluminense em Niterói entre os dias 22 e 27 de Julho de 2001, ultrapassou a marca de três mil pessoas. É um cifra difícil de precisar, já que muitos participantes não se inscrevem oficialmente. Aliás, este talvez seja um dos grandes méritos do evento: ele é aberto a qualquer pessoa que, independentemente de ser um associado ou um estudante secundarista que resolveu acompanhar o encontro sem nenhum compromisso, pode assistir a todos os eventos sem pagar nada. Em contrapartida, as pessoas registradas têm direito, após o pagamento da taxa de inscrição de quinze reais, a um material de apoio que inclui o caderno de resumos, a agenda do simpósio, além do certificado de participação que não é oferecido aos ouvintes não inscritos. Uma boa medida para o futuro seria pelo menos cadastrar estes participantes, hoje ignorados pela estatística do evento, como forma de dimensionar melhor a variedade de ocupações dos que procuram o simpósio. Outra caraterística rica destes encontros é a sua flexibilidade. Existem variadas formas de participação, que incluem desde pessoas que irão apresentar seus trabalhos ou farão cursos até aquelas que assistirão a uma única palestra. Além disso, excetuando-se as conferências de abertura e encerramento e algumas intervenções culturais que monopolizam as atenções, durante todo o evento os historiadores têm a seu dispor várias atividades que ocorrem paralelamente num leque de opções que chega a algumas dezenas e nos permitem dizer que é quase impossível que duas pessoas vejam exatamente a mesma ANPUH. Por isso mesmo é difícil que alguém não encontre lá uma discussão que lhe interesse, ainda que a imensa oferta não seja distribuída uniformemente por todas as áreas do conhecimento histórico. O debate sobre a educação, por exemplo, apesar de presente não tem uma representação à altura de sua importância. De toda forma este é um espaço privilegiado num tempo em que se critica a superficialidade das discussões. É também o lugar ideal para descobrir que outras pessoas estão pensando os mesmos problemas e, às vezes, surpreender-se com seus progressos. Além disso, os simpósios da ANPUH registram alguns momentos memoráveis como a conferência de encerramento do encontro nacional de 1999, sediado em Florianópolis. Lá discursou o professor Milton Santos, o mais consagrado geógrafo brasileiro, que já lutando contra a doença que o vitimou neste ano, proferiu um discurso inflamado contra o "mundo possível". Com o vigor de uma pregação, o professor Milton Santos entusiasmou dois auditórios totalmente ocupados, demonstrando, acima de tudo, que para ser um grande intelectual é necessário ter dignidade. Por todos estes motivos é importante participar dos encontros. Obviamente, há problemas, sendo muito comum que pessoas ao freqüentarem a ANPUH pela primeira vez se sintam decepcionadas. Afinal, muitos palestrantes só estão interessados em cumprir as determinações das agências de fomento, além do que a imensa oferta de atividades não evita as disparidades que fazem mesas coordenadas acontecerem melancolicamente sem público, enquanto que algumas conferências só podem ser assistidas com uma reserva antecipada de assento de até uma hora e meia. Apesar destes contratempos, os simpósios podem ser um bom começo para a aproximação de outros historiadores com a ANPUH. É verdade que os encontros nacionais têm contra si, o custo de deslocamento e alojamento que os participantes têm que bancar. No entanto, isto não justifica a ausência dos interessados, já que a cada dois anos os encontros são regionais (os dois últimos, em 1998 e 2000, foram na capital paulista, sediados respectivamente na PUC/SP e na USP). Sentir-se dentro de um conjunto maior, que está pensando e fazendo história, pode representar muito para aqueles que isoladamente estão fazendo da defesa do conhecimento histórico a sua luta diária. Ao mesmo tempo, o ingresso de novos historiadores, especialmente daqueles envolvidos com a educação, deve desencastelar a entidade do seu mundo acadêmico. Por falar nisto, você está se preparando para o próximo simpósio na cidade de Franca em 2002? http://www.21simposioanpuh.f2s.com
(site do 21º Simpósio da ANPUH) Você deve, provavelmente, ter estranhado o fato da Associação Nacional de História ser identificada pela sigla ANPUH. Longe de ser um estranho capricho de seus membros, a sigla conta um pouco a história dessa entidade, que foi criada em 1961 como Associação Nacional dos Professores Universitários de História. Em 1993, durante o 17º Simpósio, aprovou-se a mudança de nome o que, simbolicamente, reflete tanto as discussões internas da entidade que apontavam para a necessidade de incluir em seus quadros outros profissionais da área, quanto a própria conquista de espaços feita por eles mesmos. Segundo o site do 21º Simpósio, são objetivos da ANPUH: a) o aperfeiçoamento do ensino de história em seus diversos níveis; b) o estudo, a pesquisa e a divulgação de assuntos de história; c) a defesa das fontes e manifestações culturais de interesse dos estudos históricos; d) a defesa do livre exercício das atividades dos profissionais de história; e) a representação da comunidade dos profissionais de história perante instâncias administrativas, legislativas, órgãos financiadores, entidades científicas e acadêmicas. |